Professores das Escolas do Campo de Rio Grande participam do Encontro de Formação do Programa Escola da Terra, em Tramandaí

Entre os dias 07 e 11 de abril, os educadores que atuam nas escolas do campo da rede pública municipal de ensino de Rio Grande participaram da IV etapa de formação do Programa Escola da Terra tempo-universidade, na Colônia de Férias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Tramandaí.

O Curso de Aperfeiçoamento: Práticas Pedagógicas em Classes Multisseriadas da Educação do Campo e Comunidades Quilombolas, com carga horária de 180 horas, é uma parceria firmada entre o município de Rio Grande com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Ministério da Educação (MEC). O referido programa é mais uma conquista das lutas da população campesina, ou seja, mais uma política de reparação das manifestações não reconhecidas do campo.

O Programa Escola da Terra tem por objetivo criar espaços de estudo, reflexão e investigação, que oportunizem a interlocução teórico-prática entre os quase 500 educadores das escolas do campo do Rio Grande do Sul e os professores da Universidade envolvidos no processo de formação. O Programa foi organizado através de Enfoques Temáticos baseados na pesquisa como fundamento da ação docente, no conhecimento em diferentes perspectivas e no desenvolvimento do conhecimento científico. Além de dar visibilidade aos educadores e educadoras do campo, o encontro proporcionou uma superação de limites através de redescobertas, redimensionamentos e reflexões.

Os educadoras e educadores do campo de Rio Grande, além de participarem da formação, sentiram-se sujeitos da sua história, uma vez que a educação do campo teve seu ápice tomando visibilidade e honrando as muitas lutas e conquistas do campo. O acolhimento recíproco entre os educadores do campo foi percebido através dos gestos fraternos e marcas coletivas ao longo do curso, construindo um espaço cooperativo com seus pares.

Abaixo, alguns depoimentos de professoras cursistas:

No curso, procurei buscar algo que não existia. Aos poucos aprendi a olhar com meus próprios olhos, pensar com meu próprio pensamento, construir algo que já existia mas que precisava ser revisitado.

Encontrei meu eu em meu fazer diário. Percebi que ser educadora do/no campo existe dentro da simplicidade a grandiosidade. Mas o mais importante que aprendi no curso foi construir minha identidade como educadora do campo.” – Professora Paola Pias, EMEF Maria Angélica Campelo.

A troca com o outro sempre é sinônimo de aprendizagem e conhecimentos de outras realidades; isso nos foi possibilitado com grande intensidade no Curso de formação Escola da Terra. Assim, conhecer práticas desenvolvidas em outras escolas do campo possibilitou-me enxergar a educação campesina por outros vieses, abrindo horizontes e motivando-me em busca no novo.” – Professora Arlézia de Souza, EMEF Maria Angélica Campelo.

Acredito que momentos como o Curso Escola da Terra são de grande importância para a educação, pois este, especificamente, está voltado para a Educação do Campo. Na maioria das vezes, participamos de atividades comuns às escolas de zona urbana e rural, as quais não tornam relevantes as especificidades apresentadas no campo. Dessa forma, as contribuições oferecidas pela formação são inúmeras, entre elas, momentos reflexivos de como acontece a ação pedagógica em nossas escolas e de como ela pode ser repensada, contribuindo para aproximar mais o ensino a realidade do aluno no campo.” – Professora Daiane Biersdorf, EMEF Maria Angélica Campelo.

O curso Escola da Terra é uma oportunidade  de referenciar as práticas pedagógicas desenvolvidas nas Escolas do Campo. E, momentos como estes,  são de extrema importância para refletirmos sobre o nosso ‘fazer aqui’.  Percebemos que para fazer a diferença em uma comunidade e na vida dos alunos, precisamos ter o sentimento de pertencimento e buscar na docência compartilhada a qualidade de educação tão desejada.

Durante estes dias, através das trocas de experiências e dos trabalhos em grupo, construímos, além de conhecimento,  uma grande rede de experiências, de otimismo e de esperança nas mudanças e  real valorização dos professores do campo.

Esperamos que este curso tenha continuidade e que no próximo encontro seja garantida a apresentação da Mesa com os coordenadores, pois as ideias quando são amarradas permanecem por mais tempo em nossas memórias.  Parabenizamos a todos pela organização do curso.” – Professoras da EMEF Apolinário Porto Alegre

Minha experiência no campo começou este ano (2015), por isso estou recém me adaptando a essa realidade e, assim, me constituindo como uma educadora do campo. Apesar de não ser a primeira escola em que me insiro, algumas incertezas surgem, e ser recepcionada na educação do campo com uma formação específica na área, foi maravilhoso.

Na formação, vivenciamos muitas experiências, desde a convivência com as colegas em um quarto lotado, passeios para conhecer a cidade, o comércio (é claro), até uma divertida gincana, aproveitando o cenário da praia de Tramandaí. A princípio, o curso me pareceu um tanto vago, mas quando retornamos para a escola e propusemos a mesma atividade, observando a nossa realidade, tornou-se extremamente significativa a vivência que tivemos na formação.

No retorno à formação, foi possível desfrutar os relatos de trabalhos realizados pelos colegas de outros municípios. Esse compartilhar de experiências desacomodou nossa rotina, estimulou nossa criatividade e deu asas a nossa imaginação, estamos empolgadas com o fazer na escola.

Começo a entender que ser educador do campo é romper barreiras; barreiras que vão além dos muros da escola, dos arames ou das cercas. Barreiras que são erguidas pela descrença e pelo descaso da comunidade, dos pais, dos alunos e em alguns casos até pelos próprios colegas de profissão.

Educador do campo sim! Educador que acredita no potencial de cada criança, na capacidade de cada aluno, que respeita a individualidade, valoriza sua origem e ao mesmo tempo proporciona um novo horizonte para aqueles com quem estão partilhando os seus saberes.” – Professora Kellen Oliveira, EMEF Franklin Roosevelt.

Ao finalizar esta formação, um trabalho novo se inicia, outros se reinventam, outros ainda se complementam. O que faremos daqui pra frente? Penso que agregaremos conhecimentos, com a concretude do que estamos desenvolvendo lá na Escola, no dia-a-dia com nossos alunos, que são o nosso principal objetivo.

Saímos de Tramandaí com uma certeza: muito do que foi apresentado já fizemos ou estamos no caminho para realizar. Sonhos se concretizam, certezas que se conformam!

Finalizo minhas reflexões com falas de colegas e uma música que tem tudo a ver com o meu pensamento, que reforçam minhas convicções enquanto educadora do campo”:

Eu quero uma escola do campo

Que não tenha cercas, que não tenha muros

Onde iremos aprender

A sermos construtores do futuro

Professora Aline Minasi, EMEF Renascer.

Encontrei neste curso acolhimento e, acima de tudo, comprometimento da parte dos organizadores, tutores e de mais cursistas. Construiu-se o conhecimento através da análise e reflexão de nossas experiências diárias em sala de aula, obtendo-se assim resultados efetivos.

Fomos incentivados a não temer novos desafios. A busca é eterna. Soluções e fórmulas mágicas não existem. Compartilhar as práticas através das várias falas, levou-nos a refletir: Que tipo de aula quero lecionar?  Que tipo de sujeito quero formar/educar?

Ao tentar responder essas questões escrevemos um roteiro, escolhendo atores, cenários, figurinos, enfim. Cada cursista fez/fará a sua opção, mas com toda a certeza, a grande vencedora foi/será a Educação do Campo”. – Professora Rosa Dutra, EMEF Cristóvão Pereira de Abreu.

SMEd
Núcleo da Educação do Campo