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José Antonio Klaes Roig |
O MENINO DO LAGO O menino do lago olhava para o passado, a menina ao seu lado, olhava para o presente. Os dois iriam se reencontrar no futuro, eu juro – Disse o Senhor Destino, embaralhando suas cartas, Embrulhando suas lembranças em papel de seda... - Nunca ceda seus sonhos ao desamor..., Disse a lembrança passageira ao desmemoriado condutor... O menino do lago olhava para o seu duplo reflexo, Perplexo, sem saber o que dizer para si mesmo. A menina ao seu lado, o observando silenciosamente, Olhava para o presente que estava a desembrulhar... Temos sempre um duplo reflexo, o côncavo e o convexo: O que aparentamos para os outros e para nós mesmos, Nunca somos um só, nunca vivemos a sós, Estamos presos a nós e mais nós... Nós, primeira pessoa do plural, Nós, cordas que nos atam a um sentimento singular... O amor verdadeiro é como a flor solitária num canteiro, Dependente de todos os dias e noites, Sabermos unir o sonhar com o realizar... O chover com o chorar, o viver com o amar... O menino do lago que olhava para o passado E a menina que ao seu lado via tão somente o presente, Um dia, no futuro, se deram às mãos docemente, Numa sincronia, sintonia perfeita diante do caos... Trago comigo sempre as águas plácidas daquele lago, Perdido na infância que nunca se vai... Onde muito me banhei e contigo sempre sonhei, Disse o menino à menina, no dia que a reencontrou. Só nunca amou diante de um lago qualquer - Disse o Poeta Encantado, Que tudo registrava em prosa e verso, Em seu bloco de notas amarelado -, Quem jamais mergulhou em si mesmo E no jogo de espelhos das águas claras A sua cara metade não viu a lhe esperar... Trago comigo sempre um pouco do lago da perdida infância, Teu amor faz de mim um quase mago da doce inconstância, Não há magia maior do que amar e ser amado, Do terno conviver do menino do lago com a menina do lado. Não há maior sonho sonhado sem o pequeno despertar...
DICIONÁRIO DO COTIDIANO No meu dicionário do cotidiano, Descubro a cada dia novos sinônimos Para os mesmos verbetes. Amar é um dos verbos que mais me impressiona. Todos querem um amor, Mas nem todos sabem flexionar o verbo amar Além de suas públicas e notórias conjugações. Amar, antônimo de paixões. Na aritmética dos dias que passam, Em paralelo à métrica das palavras Que dizemos a quem amamos, O resultado final deve ser sempre o X da questão. No meu dicionário do cotidiano Não estão expressas todas as palavras do mundo, Nem todas as palavras que eu já sei de cor e salteado, Mas principalmente aquelas que eu descubro, A cada dia, a cada hora e momento pelo amor selado, De tudo que por ti eu sou, eu sei e ainda serei...