PROJETO RESGATA VALORES HUMANITÁRIOS DOS ESTUDANTES ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS DA REALIDADE SOCIAL

Fonte: www.diariopopular.com.br

Por: Mariana Santos
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A fome, frio e desconforto da população em situação de extrema vulnerabilidade social choca qualquer observador. No entanto, primeiramente é preciso perceber essa parcela excluída da população. Uma equipe de professoras da escola municipal Admar Corrêa, de Rio Grande, está desenvolvendo o projeto Imagens e Memórias com a turma de 8ª série da instituição. Fotografias da década de 20 registradas por Dorothéa Lange são comparadas com as atuais imagens do fotojornalista Marcus Maciel no retrato de realidades históricas distintas, porém relacionadas. O fotógrafo rio-grandino esteve na segunda-feira (23) no educandário para comentar o trabalho que foi analisado pelos alunos de acordo com estudos de sala de aula.

Durante os estudos sobre a Crise Mundial de 1929, a turma conheceu a fotógrafa Dorothéa Lange, que retratou os impactos na realidade da época durante o período de fragilidade econômica que assolava muitos países. As professoras de História, Relações Humanas, Português, Matemática, Inglês e Artes decidiram tratar o tema de forma interdisciplinar para que os alunos compreendessem a contextualização do momento histórico facilitando a aprendizagem.

O debate sobre as desigualdades sociais presentes no mundo foram voltados à sensibilização com a tristeza alheia. A professora de Matemática, Valéria Farias, definiu que o papel do educador perante a formação do aluno foi colocado à prova. “De nada adianta a formação de pessoas competitivas para o mercado de trabalho que não tenham os valores bem traçados com objetivo de melhorar a sociedade em que vivemos”, argumentou, ao ressaltar que instigar a visão crítica do mundo também deve ser tarefa dos docentes.

Atualidade

A equipe de educadoras tornou a problematização ainda mais próxima da realidade dos estudantes convidando o fotógrafo Marcus Maciel para palestrar sobre a exposição itinerante Existentes porém invisíveis. Os registros de realidades históricas distintas convergem para a mesma situação de pobreza e tristeza. O fotojornalista do Diário Popular contou sobre as experiências vividas durante cada registro e a intenção da mostra. “Na correria do cotidiano muitas vezes não percebemos a situação dos moradores de rua. Precisamos voltar o olhar de forma humanizada para todas as pessoas”, disse. Maciel acrescentou que embora o município esteja em pleno desenvolvimento econômico com o advento do Polo Naval, as classes mais baixas sem acesso às oportunidades de emprego permaneceram à margem da sociedade. “Essa contradição existe e é facilmente percebida nas ruas, basta ter atenção”, completou.

Análises

Ao final das explanações do fotógrafo os alunos analisaram as imagens e juntamente da professora de Artes, Xênia Velloso, traçaram o paralelo entre as fotografias. “A observação final do grupo identificou que as fotos do Maciel trazem um olhar esperançoso com linhas de continuidade nas fotos. A realidade de Dorothéa parece imutável, estática”, explicou Xênia.

A instrutora de História Jacqueline Russo ponderou que as imagens de Dorothéa e Maciel trouxeram à turma informações que relacionam as épocas com a realidade da população. A educadora faz questão de ressaltar que o projeto vai além dos conteúdos programáticos e foca no resgate de valores. “É preciso ter sensibilidade à dor do outro. A realidade muitas vezes não choca porque passa despercebida, houve uma banalização da situação e quando temos essa oportunidade paramos para exercitar a reflexão”, avaliou.

A adolescente Sherelise Duarte, 14 anos, se interessou pela abordagem de Maciel no registro dos momentos dramáticos. “Gostei da maneira como ele coloca o sentimento no trabalho. Conversa com algumas das pessoas que fotografa e se preocupa em conhecê-las”, sustenta. Com relação à postura perante essas situações a jovem não hesita em dizer que preocupa-se com a situação dos moradores de rua. “Sempre comento com meus pais sobre a tristeza que deve ser a vida dessas pessoas e os motivos que levaram a isso”, revela, ao completar que a resposta dos pais também se repete. “Eles aconselham a continuar estudando e me dedicando para evitar essa realidade”, argumenta.

Resultados

As produções finais serão expostas na Mostra Cultural da escola que será realizada no próximo dia 1º. O educandário estará aberto com exibição dos trabalhos confeccionados ao longo do ano em cada turma e seus respectivos projetos. O objetivo do evento é compartilhar com a comunidade local os resultados dos estudantes.

A turma 81 deve apresentar suas produções textuais em português e inglês, além de pesquisas para o Imagens e memórias. Os alunos registram ao longo dessa semana suas próprias fotografias para compor a mostra e expor junto com a leitura feita sobre as imagens dos profissionais. Os jovens também criaram depoimentos sobre as fotos de Dorothéa Lange retratando as realidades e colocando-se no lugar dos personagens.