- Crédito: Fabio Dutra
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Fonte: www.jornalagora.com.br
Cerca de 20 alunos ingressaram na escola
Mais uma etapa foi vencida para a comunidade dos surdos do Município. Nesta segunda-feira (10), uma nova modalidade de ensino foi inaugurada na Escola Municipal de Educação Bilíngue Carmem Regina Teixeira Baldino.
Na oportunidade, 19 alunos foram recebidos no espaço, que está localizado na Escola Viva (avenida Portugal, 38). Os alunos, que têm de 20 a 58 anos, ingressaram na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
O principal foco do espaço são os alunos surdos, mas qualquer pessoa que saiba fluentemente a Língua Brasileira de Sinais (Libras) pode ingressar na escola. A Libras é a língua oficial utilizada na escola e o português é utilizado somente na modalidade escrita.
De acordo com a coordenadora da escola, Cristiane Lima Terra Fernandes, dos 19 alunos que ingressaram, dois não conhecem Libras. “Vai ser um desafio bem grande ensinar Libras, alfabetizar e realizar todo o restante do processo. Faz muitos anos que eles pararam de estudar, a maioria faz uns 20 anos para mais que não estuda”, salientou. Ela contou que a escola atenderá os 19 alunos do EJA, de segunda a sexta-feira, das 18h30min às 22h30min.
EJA
Conforme Cristiane, o EJA é dividido em dois blocos, sendo que o primeiro corresponde aos anos iniciais e o segundo corresponde aos anos finais.
O primeiro é basicamente a alfabetização, os primeiros conteúdos e Libras. No segundo bloco, são os conteúdos de cada uma das disciplinas mais aprofundadas e Libras. O grande diferencial foi a disciplina de direitos e deveres, que incluímos, porque eles não têm muito conhecimento sobre isso pela falta de comunicação com os outros. Não sabem o que precisam fazer e não sabem do que são capazes. Falta informações gerais de mundo. Vamos trabalhar em cima das necessidades deles – explica a coordenadora.
Segunda língua
Cristiane lembrou que o português será ensinado como segunda língua, com foco no uso para os alunos, como por exemplo, em documentos e receitas.
Queremos instrumentalizar eles para esta vivência, nos lugares em que eles podem utilizar a escrita para se comunicarem. Desde março até agora trabalhamos o plano específico de ensino do EJA, com auxílio da secretaria, partindo da realidade deles. Faz tempo que eles não estão estudando, temos medo do impacto. Vamos ver e conversar para saber quais as expectativas deles sobre a escola. Vamos realizar palestras motivacionais também – ressalta ela.
Segundo a coordenadora, o EJA Bilíngue é um sonho da comunidade há muitos anos e a felicidade pela realização é muito grande. “Queremos que eles vejam este local como um espaço de acolhimento e que eles sejam instrumentalizados para viverem melhor”, enfatiza.
Retornando aos estudos
Após 7 anos longe dos estudos, Kelen Parulla, de 26 anos, e Rodrigo Perazzo, de 35 anos, resolveram retornar aos estudos juntos. E o casal tem um motivo muito nobre para isso. A maior motivação deles chama-se Bruno, que tem apenas 6 aninhos. Bruno já é bilíngue – pois, desde o nascimento, observava os pais se comunicarem através da língua dos sinais e agora está sendo afalbetizado no ensino regular.
Ele me pergunta sobre as palavras e eu não consigo ajudá-lo, desta forma, eu vou perdendo de ajudar e de aprender. Ele oraliza e sinaliza, mas tem que aprender o português tanto falado quanto escrito; sei que no futuro eu vou ajudá-lo e ele vai me ajudar – explica Kelen.
Segundo ela, além de auxiliar o filho, outro fato foi a falta que sente da escola: “Eu sinto muita falta de estudar, parei na 6ª série, mas agora eu quero completar os estudos e estou muito feliz e animada de poder estar aqui no EJA”, concluiu.
Outro casal que voltou a estudar junto é Maria da Conceição, de 58 anos, e Jorge Luis da Costa de 55 anos. Após quase 20 anos fora das salas de aula, o simpático casal esbanja alegria. “Sempre gostei muito de estudar, mas, infelizmente, não leio muito bem”, conta Maria. No entanto, Jorge contou rindo, à reportagem, que Maria voltou a estudar, na verdade, pra aprender a usar o computador.
A jovem Pâmela Amaral, de 19 anos, parou de estudar no ano passado, porque, segundo ela – que reside em São José do Norte – era muito difícil chegar à Escola e acabava sempre se atrasando para as aulas. Desta vez, Pâmela promete não desistir novamente dos estudos. “Não vou mais parar, pretendo fazer faculdade para ser professora de artes”, promete.
Por Aline Rodrigues/Esther Louro