Na tarde da quarta-feira (25), na Sala do Pescador, no Porto Velho, a programação da 3ª Semana da Pesca Responsável tratou sobre a Interação de Tartarugas com a pesca no Brasil e no Uruguai. O debate contou com a presença de pesquisadores da Divisão Nacional de Recursos Aquáticos do Uruguai (Dinara), bem como dos projetos Karumbé, do Uruguai e Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), por meio do projeto Tartarugas do Mar (Tamar). Também estavam presentes trabalhadores da área e o secretário adjunto da Secretaria de Município da Pesca (SMP), Enedi Pouzada.
A proposta do encontro foi para compartilhar experiências sobre a seletividade do pescado na região, através da valorização do trabalho do pescador, com reeducação, conscientização e recomendações de medidas que possam amenizar impactos ambientais, por meio da diminuição da mortalidade de tartarugas e espécies que são descartadas.
O evento faz parte de uma série de atividades relacionadas à valorização da atividade pesqueira na região. A abertura ocorreu no dia 15 de junho, com a 2ª Festa da Anchova, seguida da 3ª Semana da Pesca Responsável e 278 Festa de São Pedro.
Costa do RS é utilizada como ponto de alimentação de tartarugas marinhas
A coordenadora científica do projeto Tamar, Danielle Monteiro, salientou que existem registros que três espécies de tartarugas que utilizam a costa do Rio Grande do Sul (RS) como local para alimentação, outras classes também são encontradas, porém com menor incidência. As mais vistas são Tartaruga Cabeçuda, Tartaruga-de-couro e Tartaruga verde.
A região possui atividade pesqueira intensa, com registro de grandes embarcações de arrasto. A maior parte delas são oriundas de Santa Catarina. Entre os tipos de capturas encontradas na região estão: o arrasto duplo com Tangone, onde são utilizadas duas embarcações ao mesmo tempo. Os barcos são direcionadas para pesca do peixe e outros para o crustáceo – conforme dados obtidos pelo projeto as destinadas ao camarão não atuam na região o ano todo, apenas nos períodos de primavera e verão; os de arrasto simples, por meio da utilização de uma única rede que é arrastada pela popa, com lances que duram em torno de 4h à 6h, em um período de atividade de mais de 24h; e arrasto de Parelha, onde são utilizadas duas embarcações para arrastar uma única rede, estas atuam na região o ano inteiro.
Ela [Danielle Monteiro] aponta ainda que é elevado o índice de mortalidade de tartarugas e outras espécies de descarte e expõe que: “em 2004 havia o registro de apenas quatro embarcações de arrastro, atualmente temos o apontamento de cerca de 20 operando pelo Porto de Rio Grande”, disse, após salientar que entre a primavera e o verão deslocam-se para região em torno de 200 embarcações.
Os pesquisadores do projeto Tamar atuam como Observadores de Bordo, de forma a monitorar as espécies para fins de obter registros e estudos que identifiquem as melhores formas de proteção e conservação do meio ambiente, propondo reeducação e consciência para atividade da pesca.
São estudadas e ressaltadas medidas de manejo, como por exemplo, o tempo hábil para devolver as tartarugas ao mar, que segundo a coordenadora, muitos dos pescadores ao acreditar que estão fazendo o melhor para a espécie, acabam devolvendo as tartarugas de forma rápida, após conversa de reeducação eles são aconselhados a esperar de 2h às 12h, para que não ocorra casos de afogamento.
Pescadores ajudam a mensurar dados para estudo de preservação das espécies
“Sem os pescadores nós não conseguiríamos dar seguimento a atividade”, afirmou Danielle Monteiro. Segundo ela, os dados fazem parte do monitoramento para estudo de possibilidades de sobrevivência e morte destes animais para a preservação e conservação das espécies. Os registros são realizados com ajuda e autorização dos donos de embarcações durante as atividades pesqueiras e quando a equipe não está disponível eles próprios realizam fotos e anotações para repassar a equipe do Tamar.
Troca de experiências Brasil/Uruguai
Segundo o secretário adjunto da SMP, Enedi Pouzada, o momento é de reflexão para percepção de melhorias. Ele aponta que o Brasil deve aprender com as atividades que dão certo em outros países, como a regulamentação da pesca no Uruguai. Pouzada explica que o Uruguai possui um forte controle de entrada e saída de embarcações, com utilização de até dois observadores de bordo, para que as atividades sejam relatadas e registradas.
“Nós temos uma quantidade grande de embarcações e precisamos adaptar medidas melhores para controle e preservação do meio ambiente”, argumentou ao acrescentar que este é um meio para que o pescador não sofra consequências futuras na sua atividade, como por exemplo, a escassez do pescado. “A preservação é muito importante para manutenção das espécies. Precisamos alinhar os interesses entre a pesca e o meio ambiente”, disse.
O representante da Divisão Nacional de Recursos Aquáticos do Uruguai (Dinara), Andres Domingo, explicou que em seu país, toda regulamentação da pesca passa por atributos de organização, desde investigação, controle sanitário, regulamentação, entre outros aspectos.
Ao apresentar a situação, o representante uruguaio, relata que foram tomadas medidas para que a legislação estabelecesse conexão com os conselhos, os quais discutem aspectos importantes para a atividade, como por exemplo, o manejo das pescarias. “O Uruguai é um país menor, de mais fácil controle que o Brasil. Estes momentos de troca de experiências e informações são importantes para interação de propostas que estão dando certo”, disse ele.
A troca de experiência entre os profissionais do Nema e os pescadores é mais uma arma em defesa das espécies que vivem nos mares da região e sofrem com a pesca. “Conhecemos o trabalho direto com os pescadores, desde a investigação, construção e educação. A atividade é um exemplo na região”, concluiu o representante da Dinara.
Confira a programação para os próximos dias:
· Quinta-feira (26/06)
15h-17h30min: Palestra sobre a Biologia e Ecologia das Tartarugas Marinhas, com Daniele Monteiro do projeto Tartarugas no Mar;
· Sexta-feira (27/06)
9h-11h30min: Palestra sobre o trabalho do projeto Karumbé, com Alejandro Falabrino;
11h30min-13h: Intervalo;
13h-15h: Palestra sobre o arrasto de camarão;
15h-17h30min: Mesa-redonda sobre Observadores de Bordo.
Tatiane Fernande
· Domingo (29/06)
9h30min: Procissão (Trajeto: saída da Catedral de São Pedro/chegada Centro de Eventos)
11h: Missa Campal no Centro de Eventos
12h30h: Ato Público
13h: Transmissão do Jogo da Copa
13h-15h: Espaços e atrações culturais – Economia Solidária, Brinquedos infláveis, Oficinas do NEMA, Oficinas da Emater, Exposição trabalhos da pesca artesanal, Distribuição de mudas de arvore nativa, Unidade VISAT
18h: Missa na Catedral
Redigido por Ana Viegas